Que saudades tenho da minha amada
quando me lembro dos nossos momentos.
Mergulho doce num tubo de Mentos...
Demonstra a simplicidade esperada.
Peço a Deus que me tire deste sofrimento,
Que me acabe destruindo mui lento.
Já é mui tarde e estou aqui à espera
de estares junto de mim a me beijar
com os teus lábios a me pintar
a minha boca com sabor a amora.
Peço a Deus que me tire deste sofrimento
Que me acabe destruindo mui lento.
Leonardo Lopes e Waldirson Carlos (10º3)
Que saudades tenho de mha senhor
Quando a vi entrar na sala de aula
vi que tinha ar de sossegada Paula.
Tão grande que foi o meu amor
Pedi a Deus para que fosse
minha e para que comigo ficasse.
Da janela me atiro se não a tiver
Fiquei obcecado, fui ao pediatra,
mas precisava era de psiquiatra,
pois era uma bela mulher.
Pedi a Deus para que fosse
minha e para que comigo ficasse.
Reparei nela assim que a vi
a linda tatuagem no pescoço,
um gato malhado cor de tremoço.
Foi inevitável, apaixonei-me e sorri.
Pedi a Deus para que fosse
minha e para que comigo ficasse.
Pedi a Deus para que fosse
minha e para que comigo ficasse.
Rita Penedo e Joana Barata (10º3)
Ouvirá o Mundo o que nunca viu, lerá o que nunca ouviu, admirará o que nunca leu, e pasmará assombrado do que nunca imaginou. (Padre António Vieira, História do Futuro)
terça-feira, 19 de novembro de 2013
As novas Cantigas de Amor
Na varanda,
sentado no sofá,
Olhando para
o céu e pr’ as estrelas,
Sonhando com
o dia em que irei vê-la.
Sentimento
profundo este amar.
Foi tão
difícil ver-te partir
Lembro o dia
em que te fiz sorrir.
Essa dor que
coleciono está
No lado
esquerdo do meu peito
Vai-se
acumulando no coração.
Queria
dizer-to , mas palavras faltam.
Foi tão
difícil ver-te partir
Lembro o dia
em que te fiz sorrir.
Não sei
sarar essa dor que há em mim,
Talvez abra
mão, vendo o nosso fim.
(com
correções)
10º3- Otávio
Prates,25
Viver com
saudades de mha senhor
Por mar,por
terra, vos perdestes
De mim,
pareceis que esquecestes.
Tornei-me num
quadro sem pintor
Longe de vós,
sinto-me tão triste.
Estarei
sempre de nariz em riste.
Hoje
sinto-me muito carente
Já perdido nos
meus sentimentos
Deixo-me
levar pelos fortes ventos
Mas vós não
saís da minha mente.
Longe de vós,
sinto-me tão triste.
Estarei
sempre de nariz em riste.
(com
correções)
10º3- Gilson (12)e Micael (24)
Acróstico de Jecira Gomes
Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros.
Consecutivamente.
Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.
Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.
Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve a conta na botica!
Mal ganha para sopas...
O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.
Que mau humor! Rasguei uma epopéia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais duma redação, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.
A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A imprensa
Vale um desdém solene.
Com raras exceções merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo,
Soluça um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho
Diverte-se na lama.
Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.
Receiam que o assinante ingênuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convêm, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.
Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua coterie;
E a mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.
A adulação repugna aos sentimentos finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exatos,
Os meus alexandrinos...
E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe umedece as casas,
E fina-se ao desprezo!
Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!
Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?
Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague,
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras
E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!
Cesário Verde, in O Livro de Cesário Verde
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros.
Consecutivamente.
Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.
Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.
Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve a conta na botica!
Mal ganha para sopas...
O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.
Que mau humor! Rasguei uma epopéia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais duma redação, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.
A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A imprensa
Vale um desdém solene.
Com raras exceções merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo,
Soluça um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho
Diverte-se na lama.
Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.
Receiam que o assinante ingênuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convêm, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.
Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua coterie;
E a mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.
A adulação repugna aos sentimentos finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exatos,
Os meus alexandrinos...
E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe umedece as casas,
E fina-se ao desprezo!
Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!
Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?
Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague,
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras
E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!
Cesário Verde, in O Livro de Cesário Verde
Jecira Gomes
|
|
C
|
Cantam no
chiado!
|
O
|
Oiço-os da
varanda.
|
N
|
Não
percebo!
|
T
|
Tal
insatisfação humana
|
R
|
repugna-me
a alma,
|
A
|
afeta minha
calma!
|
R
|
Realmente
cantam mal.
|
I
|
Incrível!
|
E
|
Estou
cansada,
|
D
|
desisto.
|
A
|
Agora
sinto-me enraivecida,
|
D
|
desesperada.
|
E
|
Escondo-me
na cama
|
S
|
sem outra
opção.
|
Cantam no
chiado! Oiço-os da varanda. Não
percebo! Tal insatisfação humana repugna-me
a alma, afeta minha calma! Realmente
cantam mal. Incrível! Estou
cansada, desisto. Agora sinto-me
enraivecida, desesperada. Escondo-me
na cama sem outra opção.
Artistas...(2012/13)
Incapaz de conceber uma animação da viagem da
passarola através do Google Earth, desafiei os alunos do 12º 1 a
fazê-lo. O Rodrigo Silva e o Diogo Grilo formaram uma equipa e o aluno
Ruben Reis decidiu "voar" sozinho. O resultado foi este. Obrigada,
miúdos! Agora, usem as vossas "vontades" para conseguirem uma boa nota
no exame nacional.
PRIMEIROS PASSOS (2011)
Foi proposta uma atividade de escrita criativa aos alunos de 10º ano, de
Português-Língua Não Materna (A2 e B1) . A atividade baseava-se na produção de
um poema a partir de algumas palavras fornecidas por mim. O resultado foi surpreendente. Filomena Ponte Silva
Um momento
Se eu pudesse
Roubava o tempo do mundo
Fazia cada momento
Durar mais do que um segundo,
Sussurrava enquanto o tempo
É só nosso
Se eu pudesse, fazia por ti tudo
O que não posso.
Cada olhar que fica,
Cada beijo que voa,
Cada palavra amiga,
Que sozinha nos conta
Esta história tão bela
Por mais breve que seja,
Faz eterno só o momento
Por mais esquecido que esteja.
MARIA CORREIA (pseudónimo) 10º ano 3ª (B1
Saudades daquele sorriso lindo,
Daquele olhar que transparece,
Daquela menina do vestido amarelado
Que caminhava sempre lentamente
Saudades de vê-la rodopiar
Com a sua saia a esvoaçar,
Flor vermelha no cabelo
E seu sorriso no rosto
Saudades de poder tocá-la
Dizer-lhe que não deixo de amá-la,
Que me faz querer lutar
E mostrar que nada é impossível.
DÉBORA ALBUQUERQUE (pseudónimo)10º 2 (B1)
SENTIMENTO
Hoje vou pintar o céu de azul
A minha maior criação
É amar os outros.
O amor é tão difícil de ter
Tão lindo de partilhar
Tão complicado de esquecer.
É difícil amar
Sem ser amado
Porque sem a troca
Não pode existir o amor.
A vida pode ser difícil
Mas quem vive
O que é viver
Saberá amar.
Hoje vou pintar o céu de azul
Porque acredito
Que posso voar até nele,
Que nele está a minha maior criação.
TINA PEREIRA (pseudónimo)-assistente
A vida é um caminho
De tristeza e alegria.
A vida é como uma flor
Que nasce, cria e morre
Como uma floresta sem fim.
A vida é linda
Como um banco no alto mar
Como os golfinhos a saltar
Como um poeta a falar
Como um passarinho a cantar.
A vida é muito curta
Como o pé de uma criança,
Como os brinquedos da infância.
Se a vida não existisse,
A felicidade, o amor e a tristeza não existiriam.
GILSON MONTEIRO (A2)
10º1
O mar é azul
Como o céu
Que encanta com a beleza do mundo.
Quando o sol nasce
Fica tão lindo a brilhar
Como um diamante
Se não existisse o mundo
Não havia floresta.
MARIA HELENA BARBOSA 10º 1 (A2)
O meu coração arde ai ai
Tudo arde
Só porque ela me disse bye.
Foi um adeus
que afastou o pão da minha boca
e trouxe uma bebida alcoólica.
Foi um grande facto
Marcando a minha vida.
A felicidade deixou de visitar a minha casa,
Embora a tristeza vá lá todos os dias.
GILSON PATRICK TAVARES 10º 2
(A2)
No mar
fecundo
o monte
defronte.
No espaço
abraço
enlaço.
No mar encerro tudo,
lembrando o meu passado.
Sofro
contigo.
Tu sofres depois.
O monte assiste;
sofremos os dois.
Eu sou
tuas ondas,
na tua amplidão...
vou- lembro o amor que se foi;
volto- trago uma ilusão...
também
banais
iguais
no sofrer
sem ser
assim?
O mar
amar
sonhar
o mar...
Ah!mar!...
Amado.
A noite vai chegando,
o dia vai morrendo.
Dormir no infinito
de um amor passado.
EDSON ROMARIO - 10º1(B1)
Mar azul lindo de ver
com as ondas lentamente
o vento transparece de um lado qualquer
o encanto do porto ao amanhecer
perder-se na floresta do outro lado
da cidade distante.
MALAM DANFA - 10º2 (B1)
O CÉU
Aquele céu azul
como a cor do mar...
o mar é como o céu
o céu olha para a a terra
e a terra reflete o seu olhar
como duas pessoas apaixonadas
Esse é o céu
onde ficam as nuvens
as nuvens que nos rodeiam
onde vou buscar as minhas ideias.
CELSO MONTEIRO - 10º1 (A2)
Amo o verão,
o estímulo
que ele dá às pessoas,
a vontade de sair
à noite e ficar
até tarde.
Amo o desejo
que ele desperta,
a vontade de se dar,
de se entregar.
Amo as paixões
que ele desperta.
nessa época tudo vale,
a meta é divertir-se,
é aproveitar.
Amo o verão:
a mais bela estação.
ADAMA BARRY - 10º1 (A2)
AZUL
Azul é uma cor linda,
eu gosto de azul.
Quando olhei para o céu,
ficou todo azul.
E, na praia, costumo
somente ver a água,
porque o céu se reflete
no mar.
Azul é uma cor
das meninas.
A POESIA DE INÊS VALADA (nov.2011)
Ainda há poetas pela Seomara. Se os julgavam desaparecidos, aqui têm a
prova do contrário. É com muito prazer que o POST SCRIPTUM volta a
publicar textos dos nossos alunos, desta vez da autoria de Inês Valada,
aluna do 11º 1ª.
Jazz
És dono desta noite gélida e efémera.
Em segredo, serpenteias o vago como o fumo das cigarrilhas.
Ecoas em cada dedilhar da guitarra,
Em cada nota do trompete que me embala no folgar da alvorada.
Alma trapaceira, a tua!
Que me rouba os segredos mais recônditos sem pudor,
Extingue lentamente o calor da minha chama,
A história desta noite bulhenta e enlevada.
Despe-me de mim para que nua me conheça...
Leva-me o tudo, para que o nada me reste...
É louca esta noite que me arrasta,
Louca como a minha boca quando sonha que te beija.
Revela-te! Permite-me que conheça a tua presença opulenta.
Invade-me, descobre-me, mata-me!
Transforma-me em colcheias e fusas,
E por fim, arrebata-me com sustenidos e bemóis...
Para que eu, perdida, me perca...
Me perca ainda mais.
*
Na minha vida tenho mundos,
Mas nenhum mundo me tem.
Porque é que me sinto vazia?
Porque é que não sou de ninguém?
Busco o amor a cada dia,
A luz de onde este vem.
Talvez precise de um guia...
Porque é que não sou de ninguém?
Cada instante respira de ti,
E eu respiro também.
És algo que eu nunca vi.
Porque é que não sou de ninguém?
Mas talvez um dia o seja...
Ou dele ou de outrem.
Sonho o dia em que me beija,
o dia em que me deseja...
Eu só penso, ó dia vem!
*
Saudade
Saudades do movimento sobre pés descalços, da expansão, da leveza, e do vigor. Saudades da transparência, da viagem, e da metamorfose. Saudade é o sentimento que mais fortemente vive em mim, mas é assombrado pelos meus fantasmas. Sem pudor, borram de negro todas as boas memórias, tornando-as aziagas e avessas. Estou à procura de um novo rumo, mas só me deparo com obstáculos e barricadas. De olhos fechados tento vencer a bruma, que fria e severamente tenta sempre impedir-me de prosseguir. Tenho saudades dos tempos em que o Sol me ofuscava os olhos, em que o vento fazia dançar os meus cabelos como numa espiral sem fim que só o infinito quer alcançar. Será o passado coadunável apesar da sua vertente imutável? Que seja! Tal facto não me fará parar. Não me irei deixar entorpecer, não agora, não mais...
Jazz
És dono desta noite gélida e efémera.
Em segredo, serpenteias o vago como o fumo das cigarrilhas.
Ecoas em cada dedilhar da guitarra,
Em cada nota do trompete que me embala no folgar da alvorada.
Alma trapaceira, a tua!
Que me rouba os segredos mais recônditos sem pudor,
Extingue lentamente o calor da minha chama,
A história desta noite bulhenta e enlevada.
Despe-me de mim para que nua me conheça...
Leva-me o tudo, para que o nada me reste...
É louca esta noite que me arrasta,
Louca como a minha boca quando sonha que te beija.
Revela-te! Permite-me que conheça a tua presença opulenta.
Invade-me, descobre-me, mata-me!
Transforma-me em colcheias e fusas,
E por fim, arrebata-me com sustenidos e bemóis...
Para que eu, perdida, me perca...
Me perca ainda mais.
*
Na minha vida tenho mundos,
Mas nenhum mundo me tem.
Porque é que me sinto vazia?
Porque é que não sou de ninguém?
Busco o amor a cada dia,
A luz de onde este vem.
Talvez precise de um guia...
Porque é que não sou de ninguém?
Cada instante respira de ti,
E eu respiro também.
És algo que eu nunca vi.
Porque é que não sou de ninguém?
Mas talvez um dia o seja...
Ou dele ou de outrem.
Sonho o dia em que me beija,
o dia em que me deseja...
Eu só penso, ó dia vem!
*
Saudade
Saudades do movimento sobre pés descalços, da expansão, da leveza, e do vigor. Saudades da transparência, da viagem, e da metamorfose. Saudade é o sentimento que mais fortemente vive em mim, mas é assombrado pelos meus fantasmas. Sem pudor, borram de negro todas as boas memórias, tornando-as aziagas e avessas. Estou à procura de um novo rumo, mas só me deparo com obstáculos e barricadas. De olhos fechados tento vencer a bruma, que fria e severamente tenta sempre impedir-me de prosseguir. Tenho saudades dos tempos em que o Sol me ofuscava os olhos, em que o vento fazia dançar os meus cabelos como numa espiral sem fim que só o infinito quer alcançar. Será o passado coadunável apesar da sua vertente imutável? Que seja! Tal facto não me fará parar. Não me irei deixar entorpecer, não agora, não mais...
Dois contos em BD
O professor Francisco Tomé propôs aos seus alunos do 10º 4ª a criação
de uma banda desenhada a partir de um conto. Eis o resultado:
O suave milagre
[slideshare id=8373232&doc=miacouto-110621035645-phpapp01]
Tânia Santos
http://www.slideshare.net/sala_estudo_seomara/mia-couto-8373232
José Leonel
Nota: Nestes PowerPoint, verificam-se algumas gralhas que não puderam ser corrigidas, dada a natureza do documento.
O suave milagre
[slideshare id=8373232&doc=miacouto-110621035645-phpapp01]
Tânia Santos
http://www.slideshare.net/sala_estudo_seomara/mia-couto-8373232
José Leonel
Nota: Nestes PowerPoint, verificam-se algumas gralhas que não puderam ser corrigidas, dada a natureza do documento.
EM BUSCA DA POESIA 10º1ª e 10º3- 2010/11
Os alunos das turmas 1 e 3 do 10º ano foram convidados a produzir
pequenos poemas a partir de desencadeadores de escrita criativa.
Confrontados com uma listagem muito limitada de vocábulos, fizeram o
melhor que puderam. Não seleccionei os melhores. Publico todos e esta
actividade vale pela experiência de brincar com as palavras. Filomena Silva
1oº 1
O cão aldrabão
estava abandonado,
então o João
espalhou bifes dourados
pelo chão.
João Campião
Soldado dourado Francês
Esquerdo ao lado de Inglês
Sentado no meio do português
Matando a fome na mesa do Irlandês.
Eduardo Tomé
O sapo escorregou na casa de banho
desanimado chorou com a sanita
e pediu-a em namoro.
Eliany
O rato corria na distante escada
este rasgão mentia a cada episódio estúpido
Jecira
O poeta não escreve
Fala e escuta
O silvo dos pássaros
E constrói ternuras
Eu…
Eu que fora outrora
Um deles, voei alto
Abri savanas e suspirei como um elefante
Na terra húmida e vermelha
Eu
Escrevi como um justo num lugar árido
E mais…
venci a noite
Desenterrei o aroma de xerez a terra
Achei sinais perdidos nos fios pardos dela
E esqueci a riqueza,
os haveres que os homens acumulam
Os sítios sórdidos
Até extingui de todo
Ser água, pó, grão
Eu morria
Ela nascia
Miguel Coxe
Mostro o rosto louco
às estrelas responsáveis
e encosto-me a remar.
Paulo
Camarada rato camarão
com cara hostil
chora uma rampa de molho
homem espantralho com um tressolho no olho
do tamanho de um repolho
Sandra
O cão esperto prostitui-se à sombra
o ladrão sonâmbulo mostra a esperança
João
Pela terra espalhamos ruído
até o aroma romper as tendas da esperança.
Rui
A raposa nadou com o rato
a rapariga cansada do sapateiro
o nadador com casa modesta
acabaram radiantes e enamorados.
Junisa
De rosto coberto
corria o amado
num fato de lama
corria cansado
de tomate na mão
agrediu o sentimento
era normal
fugia do casamento.
Dulcineia
Ostenta decadência racional
desde macaco a maluco,
marca tendências ao Ramalhão
rapidamente hostil e repente manso
Desço rápido escadas, partindo ossos
tendo marcas raras
hostil, mas maroto,
posso confirmar as armas...~
Afirmo quadra, marco expressões,
ao ponto de palpitar corações...
sinto os erros, supeitos amados...
Fados perdidos... enganados,
mata a rainha dos explorados.
Mania de mandar nos tarados...
Anatilde
Desvanecia-se o amor
sentia-se a dor
hostil, mal avassalador
Doía-me
Uma flor crescia e florescia
mas o amor, ainda o sentia
agonia em demasia
réstia de alegria
Doía-me.
Leonor
Em Roma com um papel
uma tela cheia de bandeiras
um frasco de mel
enquanto espero pelas freiras
roendo uma moela
faço-te aquela mistela
num quadro com uma teia
Desenho-te essa cara feia
Pedro
estava abandonado,
então o João
espalhou bifes dourados
pelo chão.
João Campião
Soldado dourado Francês
Esquerdo ao lado de Inglês
Sentado no meio do português
Matando a fome na mesa do Irlandês.
Eduardo Tomé
O sapo escorregou na casa de banho
desanimado chorou com a sanita
e pediu-a em namoro.
Eliany
O rato corria na distante escada
este rasgão mentia a cada episódio estúpido
Jecira
O poeta não escreve
Fala e escuta
O silvo dos pássaros
E constrói ternuras
Eu…
Eu que fora outrora
Um deles, voei alto
Abri savanas e suspirei como um elefante
Na terra húmida e vermelha
Eu
Escrevi como um justo num lugar árido
E mais…
venci a noite
Desenterrei o aroma de xerez a terra
Achei sinais perdidos nos fios pardos dela
E esqueci a riqueza,
os haveres que os homens acumulam
Os sítios sórdidos
Até extingui de todo
Ser água, pó, grão
Eu morria
Ela nascia
Miguel Coxe
Mostro o rosto louco
às estrelas responsáveis
e encosto-me a remar.
Paulo
Camarada rato camarão
com cara hostil
chora uma rampa de molho
homem espantralho com um tressolho no olho
do tamanho de um repolho
Sandra
O cão esperto prostitui-se à sombra
o ladrão sonâmbulo mostra a esperança
João
Pela terra espalhamos ruído
até o aroma romper as tendas da esperança.
Rui
A raposa nadou com o rato
a rapariga cansada do sapateiro
o nadador com casa modesta
acabaram radiantes e enamorados.
Junisa
De rosto coberto
corria o amado
num fato de lama
corria cansado
de tomate na mão
agrediu o sentimento
era normal
fugia do casamento.
Dulcineia
Ostenta decadência racional
desde macaco a maluco,
marca tendências ao Ramalhão
rapidamente hostil e repente manso
Desço rápido escadas, partindo ossos
tendo marcas raras
hostil, mas maroto,
posso confirmar as armas...~
Afirmo quadra, marco expressões,
ao ponto de palpitar corações...
sinto os erros, supeitos amados...
Fados perdidos... enganados,
mata a rainha dos explorados.
Mania de mandar nos tarados...
Anatilde
Desvanecia-se o amor
sentia-se a dor
hostil, mal avassalador
Doía-me
Uma flor crescia e florescia
mas o amor, ainda o sentia
agonia em demasia
réstia de alegria
Doía-me.
Leonor
Em Roma com um papel
uma tela cheia de bandeiras
um frasco de mel
enquanto espero pelas freiras
roendo uma moela
faço-te aquela mistela
num quadro com uma teia
Desenho-te essa cara feia
Pedro
1oº 3
O veneno é como a maldade
A máscara uma espécie de alucinação
Quando é posta sem qualquer vontade
Cai logo depressa sem hesitação
Sulema
Sofia mexia na pastelaria pastéis
Na missa o Pedro assistia ao terror
Vera
Naquela zona a menina que namora
Às escondidas
Mariana
Sonhar mistura sentimentos desesperados.
Tu desvendas-me sem que eu queira.
Pareces uma túlipa em vão.
Aissatu
Ia sozinha pela terra
e sentia-me como antes
ao mexer-lhe com ternura
Márcia
Seria esta Daniela Albina
Espantada por alguém
Na memória guarda memória engraçada
De Almada onde oferecia algodão da varanda.
Mércia
UM TEXTO SURPREENDENTE DE LEONOR CARVALHO (10º1)
Esclarecimento Procura-se
Mas
porque é que pensei aquilo? A verdade é que por mais que esperasse, a
resposta não vinha. Então esperei um pouco mais. Mas a resposta teimava
em não vir. Desviei o olhar do chão, ou do céu, fosse aquela escuridão o
que fosse, e levantei-me às apalpadelas, como aliás, sempre fazia. Era
sempre de noite naquele lugar. Triste e sombrio, tudo ali era tenebroso e
desconhecido. Embora ansiassem por mais, os meus olhos tinham-se já
acostumado à imensidão da penumbra que abraça aquele lugar quer de dia,
quer de noite, isto é, se realmente existe ali algum dos dois.
Todos aqueles que me rodeavam me falavam na luz. Luz, quem és?
Nunca
vivi em lugar algum senão nas trevas da noite. Naquele sítio, o Sol
nunca brilha: creio que até ele tem medo de se mostrar em local tão
sombrio como aquele, que parece ser só meu. Nunca vi ninguém por ali:
sou só eu e a solidão dos meus pensamentos, misturados com aquelas
vozes. Essas, perseguem-me todos os dias, a todos os momentos. Por vezes
parecem ecoar de todos os becos daquela minha cegueira e, ao mesmo
tempo, de lado algum.
É de calcular que, por esta altura, o leitor esteja já confundido. Pois se assim é, bem-vindo ao meu mundo.
Mas
voltemos ao tema principal. Isolado no meu universo obscuro, dei por
mim a matutar em algo que jamais me havia trespassado a mente… quer
dizer… não é bem assim. Na realidade, creio que não existe sequer um
pensamento que não tenha já atravessado o meu só e enegrecido intelecto.
No entanto, tento afastar as ideias mas obscuras e ocultas que o
assolam, tento não lhes dar atenção e espero, quase que suplicando em
silêncio, que desapareçam. Afinal, obscuridade já eu tenho que sobre,
mas desta vez não fui capaz. Foi mais forte do que eu. Por mais que
tentasse afastar aquele pensamento, ele continuava a bater
incansavelmente na minha pobre cabeça, até eu lhe dar um pouco de
atenção. Só aí cessaria com aquele martelar incomodativo e me deixaria
em paz. Vi-me forçado a dar-lhe ouvidos. “Mas que ideia é esta então?”,
pergunta-se o meu caríssimo leitor, seja somente por mera curiosidade ou
até mesmo por calcular que me pode dar uma resposta para a minha
questão por resolver. Pois é com certo pesar que lhe revelo que,
infelizmente, começo a desconfiar que este meu problema não tem resposta
ou solução possível. Confesso agora a quem se digna a ler estas pobres
linhas, fruto de um momento de negra e solitária reflexão, que a única
conclusão a que cheguei no fim de tudo isto é que,sim, realmente tenho
um problema ou enigma ou como o meu leitor lhe quiser chamar. Até aqui,
nada de novo. A minha grande e pequena conclusão, visto que não serve de
muito, foi que, afinal, e para meu grande desalento, o meu problema se
desdobrava e multiplicava tão rapidamente quanto o meu cérebro permitia.
Dividi então, toda esta parafernália de confusões em tema e subtemas.
Estes últimos, tornavam-se cada vez mais infinitos à medida que
apareciam na minha cabeça. Eram como forasteiros que assaltavam o meu
pensamento e o ocupavam, sem mais o abandonar. E assim que se
instalavam, sentiam-se suficientemente à vontade para se reproduzirem,
mesmo que o meu pobre cérebro não o permitisse. Eram infractores da lei,
imparáveis e implacáveis, esses malditos. E quanto mais lutava contra
eles, mais eles atacavam e contra-atacavam. Rendição à vista? Essa
parecia-me já a única forma de sair daquela batalha com um pingo de
dignidade no sangue.
E
pensar que tudo isto começou por um simples “porquê?”… “Mas porquê o
quê?!”, pergunta sua excelência, o meu paciente e dedicado leitor, que
já deve estar a sentir-se algo entre o entediado, o curioso e o
enfurecido, daí eu estar a tratá-lo com tamanha polidez. Talvez seja por
isso que o meu irmão mais velho, homem de palavras caras e sábias, diz,
tantas e repetidas vezes, que posso não ver mais do que uma cortina
negra diante dos meus olhos, mas que o meu poder de bajulação persuasiva
está lá.
Voltando
ao nosso ponto de interesse, onde é que estávamos? Ah sim, “ mas porquê
o quê?!”. Ora, porque é que tudo parece estar envolto numa sombra
cerrada para mim? E partindo daqui, eu pergunto-me: o que é a luz? O que
são as cores e as formas dos objectos? E como são os teus olhos,
grandes ou pequenos, amendoados ou arredondados?, como é o teu nariz,
fino ou largo, afilado ou achatado, como são exactamente os teus
lábios?, deles conheço apenas o seu suave toque e sabor, e como são as
tuas mãos, oh, as tuas mãos, cujo toque reconheço sob todas as condições
possíveis e imaginárias e que delas somente posso relembrar a sua
suavidade e humidade característica? Imagino tudo isto, mas porém, sem
certezas. Será isso suficiente? E porque é que tu, tu e todos, sussurram
entre si sobre tudo isto que me atormenta o dia-a-dia sem nunca me
darem uma resposta concreta?
Esclarecimento procura-se, e esta oferta está aberta também para si, caríssimo leitor.
Leonor de Carvalho (31/5/2011)
Exercício de Escrita
Um poema de N’Zoge Victor do 10º8.
A Pessoa da minha Vida
Ela tem um jeito
Que só ela tem.
E que é demais.
Ninguém me faz
Sentir do jeito que ela me faz.
Bonita por dentro,
Por fora também,
Com Ela irei para além do além.
A Vida deu -me tudo que tinha para dar
Não quero mais nada
Porque para mim chega já.
É o brilho que traz a luz ao meu mundo,
Bem dentro do meu coração, ela está no fundo.
Meu anjo da guarda, minha dama, amiga, meu Às, meu trunfo.
Fizeste o meu mundo maravilhoso.
Trouxeste paz, harmonia e orgulho.
É o meu ar, que me faz respirar.
Para mim, Tu representas
A Lua, as Estrelas, o Sol e o Mar.
É bom sonhar e tentar
Para se alcançar.
Tudo o que fizeres não será em vão
Pois estarás dentro do meu coração.
N’Zoge Victor nº14 10º8
Ela tem um jeito
Que só ela tem.
E que é demais.
Ninguém me faz
Sentir do jeito que ela me faz.
Bonita por dentro,
Por fora também,
Com Ela irei para além do além.
A Vida deu -me tudo que tinha para dar
Não quero mais nada
Porque para mim chega já.
É o brilho que traz a luz ao meu mundo,
Bem dentro do meu coração, ela está no fundo.
Meu anjo da guarda, minha dama, amiga, meu Às, meu trunfo.
Fizeste o meu mundo maravilhoso.
Trouxeste paz, harmonia e orgulho.
É o meu ar, que me faz respirar.
Para mim, Tu representas
A Lua, as Estrelas, o Sol e o Mar.
É bom sonhar e tentar
Para se alcançar.
Tudo o que fizeres não será em vão
Pois estarás dentro do meu coração.
N’Zoge Victor nº14 10º8
Um texto de Miguel Coxe do 10º 1
A minha bandeira descoloriu
Estou em casa a observar através da janela a neve que cai lá fora e penso, ao mesmo tempo, que o Inverno veio mais uma vez acabar com os meus momentos de glória.
Estou sozinho, no quarto enorme, pintado de azul claro e com cheiro de homem.
A minha mãe tinha ido fazer as compras para os preparativos do final do ano. Este ano resolveram pôr-me de parte e sem o meu consentimento decidiram que iriam passar o ano novo na casa do tio Eddi Venturas que reside em Espanha. Eu ainda contestei com a decisão, mas ouvi da senhora Carla Botelho algo do género:
- Não temos que ficar em casa só porque tu queres!
O Senhor Botelho olhou-me com dureza no momento do lance, sempre com o seu ar de quem concorda que quando uma mulher fala não deve impor-se a ela, portanto a mãe, sendo uma mulher robusta, de cabelo ruivo e olhos de avelã, quando fala tem a razão do seu lado. Descobri que o meu pai age assim, porque lê demais, lê às escondidas um livro de título “ O livro das mulheres” e, certo dia, para não ficar na dúvida, perguntei-lhe por que lia algo que na minha opinião estava destinado a uma mulher e ele disse-me que agora é o tempo delas, que são elas a chave da felicidade. Bem, que horror! Tal foi o meu espanto! Eu acabava de completar catorze anos naquela altura. Eu era um rapaz do futuro e o mundo todo e os rapazes do futuro só tinham em mente Software, Windows, Motherboard, Internet, computadores e o Senhor Botelho tinha em mente compreender uma mulher como quem quer compreender uma flor a desabrochar numa manhã primaveril. Bem, esqueçamos isso, que são coisas sem valor. Vou falar um pouco em particular do meu herói. O Senhor Botelho é baixo, gordo, de pele pálida, de bigode espesso e cabelo escuro rente à cabeça. Antes ele era muito alto, hoje eu vejo que, quando se tem seis anos de idade, o mundo é um lugar enorme e complexo. Gosto de chamá-lo Senhor Botelho, porque as grandes personagens das nossas vidas merecem que o amor e a amizade da nossa parte lhes chegue com exagero. Sem o exagero, o amor e a amizade não são nada. É como a ausência de chama numa alma, é como parar, olhar e desistir quando nos aparece uma parede a frente. Digo isto porque para haver sentimento é necessário entusiasma-se bastante. Enquanto penso nessas questões, ouço a voz da minha mãe de repente, seguido do ruído da porta de casa.
- Umberto!
O Senhor Botelho entra a seguir com os seus sapatos que fazem um barulho estrídulo. Traz sacos nas mãos que também exercem o seu barulho. Não vou ao encontro deles, espero no canto da janela, fingindo contar uma história para mim. Lá fora a neve cai lentamente.
- Gaspar Umberto Botelho!
Berra o meu pai que sobe a escada para o pavimento superior.
- Sim! -respondo quando este alcança a porta do quarto e a abre devagar.
- Umberto, que fazes aí parado? - perguntou, com uma voz paciente e terna.
Não o olho ainda, tenho prazer em pensar como será o seu aspecto, partindo do princípio que só me dão o nome dele e me dizem que este nome pertencerá ao meu pai.
Imagino-o como Alcapone, caminhando naquela tarde, naquela neve, com o seu charuto na boca, com o coração quebrado por ter-se dado ao luxo de compreender uma mulher, quando lhe diziam que o amor é para os idiotas. Imagino Alcapone com o seu fato preto. A alma já há muito descoloriu como uma bandeira esquecida numa ilha. Traz numa das mãos uma lata de salsicha e no bolso da gabardina uma Coca-Cola. A barba estava por fazer. Imagino-o, eu Gaspar Botelho para quem, por acaso, se esqueceu do meu nome.
Estou em casa a observar através da janela a neve que cai lá fora e penso, ao mesmo tempo, que o Inverno veio mais uma vez acabar com os meus momentos de glória.
Estou sozinho, no quarto enorme, pintado de azul claro e com cheiro de homem.
A minha mãe tinha ido fazer as compras para os preparativos do final do ano. Este ano resolveram pôr-me de parte e sem o meu consentimento decidiram que iriam passar o ano novo na casa do tio Eddi Venturas que reside em Espanha. Eu ainda contestei com a decisão, mas ouvi da senhora Carla Botelho algo do género:
- Não temos que ficar em casa só porque tu queres!
O Senhor Botelho olhou-me com dureza no momento do lance, sempre com o seu ar de quem concorda que quando uma mulher fala não deve impor-se a ela, portanto a mãe, sendo uma mulher robusta, de cabelo ruivo e olhos de avelã, quando fala tem a razão do seu lado. Descobri que o meu pai age assim, porque lê demais, lê às escondidas um livro de título “ O livro das mulheres” e, certo dia, para não ficar na dúvida, perguntei-lhe por que lia algo que na minha opinião estava destinado a uma mulher e ele disse-me que agora é o tempo delas, que são elas a chave da felicidade. Bem, que horror! Tal foi o meu espanto! Eu acabava de completar catorze anos naquela altura. Eu era um rapaz do futuro e o mundo todo e os rapazes do futuro só tinham em mente Software, Windows, Motherboard, Internet, computadores e o Senhor Botelho tinha em mente compreender uma mulher como quem quer compreender uma flor a desabrochar numa manhã primaveril. Bem, esqueçamos isso, que são coisas sem valor. Vou falar um pouco em particular do meu herói. O Senhor Botelho é baixo, gordo, de pele pálida, de bigode espesso e cabelo escuro rente à cabeça. Antes ele era muito alto, hoje eu vejo que, quando se tem seis anos de idade, o mundo é um lugar enorme e complexo. Gosto de chamá-lo Senhor Botelho, porque as grandes personagens das nossas vidas merecem que o amor e a amizade da nossa parte lhes chegue com exagero. Sem o exagero, o amor e a amizade não são nada. É como a ausência de chama numa alma, é como parar, olhar e desistir quando nos aparece uma parede a frente. Digo isto porque para haver sentimento é necessário entusiasma-se bastante. Enquanto penso nessas questões, ouço a voz da minha mãe de repente, seguido do ruído da porta de casa.
- Umberto!
O Senhor Botelho entra a seguir com os seus sapatos que fazem um barulho estrídulo. Traz sacos nas mãos que também exercem o seu barulho. Não vou ao encontro deles, espero no canto da janela, fingindo contar uma história para mim. Lá fora a neve cai lentamente.
- Gaspar Umberto Botelho!
Berra o meu pai que sobe a escada para o pavimento superior.
- Sim! -respondo quando este alcança a porta do quarto e a abre devagar.
- Umberto, que fazes aí parado? - perguntou, com uma voz paciente e terna.
Não o olho ainda, tenho prazer em pensar como será o seu aspecto, partindo do princípio que só me dão o nome dele e me dizem que este nome pertencerá ao meu pai.
Imagino-o como Alcapone, caminhando naquela tarde, naquela neve, com o seu charuto na boca, com o coração quebrado por ter-se dado ao luxo de compreender uma mulher, quando lhe diziam que o amor é para os idiotas. Imagino Alcapone com o seu fato preto. A alma já há muito descoloriu como uma bandeira esquecida numa ilha. Traz numa das mãos uma lata de salsicha e no bolso da gabardina uma Coca-Cola. A barba estava por fazer. Imagino-o, eu Gaspar Botelho para quem, por acaso, se esqueceu do meu nome.
Outubro de 2010
Nada melhor do que recordar os antigos alunos da Escola Secundária Seomara da Costa Primo e os textos que elaboraram para um dos vários Concursos Literários dinamizados por professores de Português.
Alma de Poeta
Um dia destes, passou por mim um poeta a correr. Segui-o, curiosa, para com ele conversar. De repente, parou. Olhou para trás, com os seus olhos de poeta molhados, e sentou-se ali, naquela nuvem macia de algodão. Sem saber o que fazer ou dizer, segredei-lhe ao ouvido algo para o animar. O poeta, surpreendido, disse-me que não me preocupasse, e que apenas pintara versos na Lua. Incompreensível. Os poetas têm almas complicadas, as quais só se explicam em dias de melancolia.
Uma
tristeza imune a qualquer sentimento de alegria perturbara-o na noite
anterior, em que a sua estrelinha brilhava, na esperança de o ver
dormir, regalado por idílios antagónicos que lhe confortam a alma de
poeta em conflito. De braços abertos,
confessou-me: "O sonho transfigura-me o espírito e é tão bom ficar na
ignorância de que o mundo me espera de braços abertos!" E logo se despiu
de saudade para mergulhar em desespero.
Nessa mesma noite, a Lua, companheira de infortúnios de amor, sorriu-lhe cinicamente e prometeu-lhe não cantar. Contudo, aproveitando-se da sua eternidade, atirou gargalhadas às estrelas e sacudiu-o de encontro a lágrimas inquietas.
O poeta, cansado de tanta dor, proferiu ameaças aos homens que, estupidamente, se movimentavam em ciclos viciosos. De madrugada, quando finalmente adormecera, foi acordado pelo sussurro das estrelas, que se riam da Lua baixinho. Mais uma vez, pegou no bloco de notas para escrever, o que o levou ao encontro da Lua adormecida, para nela pintar versos de ódio e de dor. Depois, ficou por ali, a conversar com as estrelas, as quais o confortavam timidamente,
sem saberem como o adormecer. Ao acordar, a Lua viu-se carregada de
raiva e tentou alcançar o poeta que começara a correr.
Foi então que ele me encontrou e pensou que comigo estaria a salvo. Achou que, tal como ele, também eu me revoltara contra a crueldade da Lua, mas logo lhe expliquei que ela a mim me confortava, em noites de solidão como aquela. [...] A solidão desperta-me quase todas as madrugadas e conversa comigo até ao nascer do dia. Inoportuna sensação de abandono...
Após uma longa conversa, concluímos que aquela fora uma infinita madrugada de tristezas infundadas.
Nunca mais esquecerei aqueles olhos cansados de tanto chorar, nem aqueles gestos preguiçosos de quem sofre todos os dias. Em noites fatídicas, relembro as suas palavras, onde a vaga ideia de mim se afoga num imenso oceano de consolos.
Marta Costa Santos--12° 8a N° 2 / 2000
Subscrever:
Mensagens (Atom)